Das plantações às indústrias: uma infâmia a céu aberto


No dia 18 de dezembro, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, realizou-se uma mesa-redonda organizada pelo Núcleo de Estudantes e Estudos Africanos para debater o racismo, o capitalismo e os processos modernos de escravatura - com enfoque especial à Líbia. Mamadou Ba (SOS Racismo) e Apolo de Carvalho (Afrolis - e um poeta de mão cheia de indignação, revolta e sensibilidade) abordaram o tema com a profundidade e a seriedade necessárias, debruçando-se sobre as relações entre Europa e África e entre as próprias lideranças africanas. Aceitei o convite-bomba - sem querer, obviamente, diminuir o foco da absurda e desumana venda da escravos no tempo presente - para compartilhar algumas conquistas do movimento negro brasileiro e "denunciar" os riscos|retrocessos pós-Golpe e, especialmente, a portaria facilitadora do trabalho escravo - na região central do país, principalmente - imposta pelo Executivo e revogada pelo Judiciário [até o momento]. Jogatina que mantém o Golpe e os interesses da bancada ruralista! Tentei só listar algumas impressões sobre a trajetória deste ano da luta em Portugal [de acordo com o que me aparece] e saber como seguir cada vez mais, sem parar...

A experiência foi tão interessante como incômoda, para mim. Aceitei o desafio de sentar numa mesa dentro de uma universidade mesmo estando distante da Academia, há anos dentro de restaurante, e não tendo apreço pela posição frente a uma plateia. A linguagem esperada|usada e o silêncio da escuta atenta versus a necessidade da troca. Acho que teria sido mais prudente convidar uma mulher negra para equilibrar a mesa e não descontextualizar a minha abordagem. Enfim, gostei muito de estar presente. De observar a discussão atenta e crítica, a cumplicidade afrodescendente, a força da luta, a vontade de dinamizar e fortalecer as articulações das ações.

A minha maior inquietude é constatar o crescimento e a visibilidade da luta e instigar ações para o movimento não se perde por aí a fim de combater os atritos internos e conscientizar-mobilizar cada vez mais. Obrigado Suzana Djiba (NEEA/FLUL) pelo convite - fruto do nosso encontro na Tocha 2017. Sigamos próximos e juntos!