A experiência da Graduação

 

Foi em 2002, aos 17 anos, que iniciei os estudos académicos. Passei em História (FFPNM/UPE) e não em Publicidade (UFPE), como desejei e planejei. Livrei-me do fardo de participar da empresa da família paterna e mergulhei de peito aberto na Educação: estudar, ler e partilhar conhecimentos parecia-me o melhor caminho para viver e sobreviver. Entrei imaturo, como a maioria, em um curso noturno onde quase todes trabalhava ao longo do dia antes das aulas - como eu, a partir do segundo ano. A grande maioria dos estudantes [dos cursos de Biologia, Geografia, História, Letras, Matemática e Pedagogia] deslocava-se de suas cidades para a cidade de Nazaré da Mata. Toda semana. Perdeu o ônibus, público ou privado; perdia a aula. Rotina para fortes!

O primeiro ano foi fundamental para nos inserir no mundo universitário: Introdução aos Estudos Históricos, Pré-História, História Antiga, Fundamentos da Geografia, Língua Portuguesa I e II, Filosofia Geral, Antropologia Cultural I e II e Metodologia Científica. IEH, Filosofia Geral e Pré-História julgo como as melhores para a minha formação nesta primeira etapa. No segundo ano: História Medieval I e II, Civilização Ibérica, História das Ideias Políticas e Sociais, América Pré-Colombiana, História do Brasil I, Psicologia da Educação (Desenvolvimento) e História Moderna I. Já no terceiro: História da América II e III, História do Brasil II e III, História Moderna II e III, Didática I e II, Psicologia da Educação (Aprendizagem) e História Contemporânea I.

Desde o primeiro ano, participei de eventos acadêmicos - tanto organizados por instituições como por estudantes. Mas, foi no terceiro ano que, melhor informado, procurei uma forma de colocar em prática o que estudava: procurei projetar e desenvolver uma pesquisa. Para isso, foi necessário aproximar-me mais da área da Pedagogia - uma vez que me identificava mais com as disciplinas da Educação do que com as técnicas da História, caso não-comum. Inserido em um contexto peculiar, decidimos, eu e a Prof. Dra. Sandra Montenegro, verificar qual era o perfil social dos estudantes da faculdade que ingressavam e que concluíam os cursos. A pesquisa, sem financiamento, tinha como título A universidade pública e a formação docente: funcionalidade e repercussão social e os resultados permitiram constatar que: a) os cursos de licenciaturas serviam de "segunda opção" para os estudantes de classe média e da capital - que não foram aprovados em outras universidades -; b) alguns cursos eram marcados ou pela presença de homens (Matemática) ou mulheres (Pedagogia); c) os cursos eram os únicos existentes no interior, logo únicas opções para os arredores; d) a maioria discente concluía os cursos - exceto, Biologia, Geografia e Matemática -; entre outras constatações. Essa pesquisa foi apresentada no 5º Congresso Nacional de Educação e no III Fórum Mundial de Educação.

As aulas serviram para ler, os estudos para escrever e os eventos acadêmicos para falar e trocar. Um conjunto de competências e habilidades é oferecido na Academia. Experimentei ainda a vivência do movimento estudantil - sempre ligado à área da Cultura. As assembleias, as reuniões, as pautas, as ações, tudo ensinava como conquistar o que se quer fortalecer e modificar.

Foi assim que descobri como realizar, juntamente com estudantes de diferentes cursos, um evento artístico a partir de questões acadêmicas - com o  dinheiro público e por dois anos consecutivo: Primeira Talvez Última Mostra de Artes Visuais (2004) e Segunda Talvez Última Mostra de Artes Visuais (2005) - sem registro, infelizmente. No primeiro ano, algumas instalações foram espalhadas por toda a universidade. Enquanto no segundo, contou-se também com a presença de algumas obras de estudantes-artistas, de outras instituições, assim como apresentação de música, peça de teatro e sarau. Tais mostras, por sua vez, não tiveram vínculos com gestões estudantis e partidos políticos.

Para encerrar o último ano: Estrutura e Funcionamento da Educação Básica, História do Brasil IV, Sociologia I e II, História Contemporânea II e III, Prática de Ensino I e II e História Econômica Geral e do Brasil. Foi neste ano que consegui participar melhor das aulas: escrevendo e falando. No início, ainda muito imaturo e tímido, não fazia sentido interagir. Foi preciso, primeiro, aprender a interagir. Nunca reprovei nenhuma disciplina, mas senti muita dificuldade em algumas: História das Ideias Políticas e Sociais, História da América e História Moderna. A maioria docente mostrou-se bem acomodada e rotinizada: adoravam seminários e evitavam explanar. Apenas recém-chegades demonstraram mais autonomia, criticidade, dinamismo e propriedade.

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Meu estágio supervisionado foi realizado na Escola Elanor Roosevelt [IPSEP - Recife/PE]. Foi meu primeiro contato com o ensino público regular. Interessante observar de perto a realidade educacional. Recusei-me a procurar assinaturas de docentes e dirigentes para formulários. Para mim, era preciso passar por essa experiência.

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Avalio como um bom curso - acredito que melhor nos anos seguintes depois da reforma curricular (pós-10.639/03). Um curso bastante discriminado, na minha época, por ser ministrado no interior e não na capital. De onde brotaram vários e comprometidos professores, hoje mestres/mestras e doutores/doutoras - atuantes na rede pública e privada e dentro e fora da Academia.

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A biblioteca era, por demais, limitada.

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Principais em minicursos e eventos acadêmicos:

A pesquisa no processo de formação de professores (FFPNM/2005)
Estética e procedimento na cena [teatral] brasileira (Festival de Teatro - PCR/2005)
História Oral (XVII EREH/ UFAL/2005)
O papel do educador no mundo globalizado (FFPNM/2005)
Linguagens alternativas para o Ensino da História (XIV ENEH/ UFRPE/2004)
Barroco: estilo literário de época ou constante humana? (XI EREL/ UFRN/2004)
História da Escravidão no Brasil (Semana de História - FFPNM/2003)
Paradigmas ds explicação histórica: dos narradores gregos aos da pós-modernidade (IV  Encontro Estadual da ANPUH/ UFRPE - 2003)
Historiografia Pernambucana (I Seminário de Historiografia - FUNDAJ/2002)
Heróis e vilões: quem é quem na História do Brasil? (FFPNM/2002)
Teoria e Crítica da Arte (XXII ENEH - UNICAMP/2002)
História da África (Semana de História - FFPNM/2002)
VI Semana Gilberto Freyre (FUNDAJ/2002)

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Ministrei o minicurso História, Educação e Chico Buarque: um novo olhar sobre o período militar rumo à (re)construção do cotidiano, sob orientação da Prof. Dra. Gilda de Freitas Araújo e e em parceria com dois amigos-acadêmicos, Rafael Bastos [História] e Sebastião Soares [Letras], no XVI Encontro Regional de Estudantes de História na Universidade Federal do Ceará.

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É preciso ressaltar que os anos da graduação são bastante transformadores porque universidade não é escola: você encontra-se mais livre e seus familiares mais longe. A realidade é outra, a rotina é outra. As regras são outras, as descobertas são outras. É preciso tornar-se cada vez mais atento, comunicativo, organizado e responsável. Conheci várias cidades e estados do Brasil por meio de eventos académicos - de forma acessível e coletiva. Drogas lícitas e ilícitas, experiências sexuais e crises existenciais fazem parte da estrada. E, com tudo isso, não se aprende só História como aprende-se também a escrevê-la; a viver em sociedade, a jogar com a realidade.